Contingências: O que são?

Esse vídeo fala sobre a diferença entre contingência e comportamento na Análise do Comportamento Aplicada (ABA). O palestrante, Paulo Aguirre, psicólogo, inicia explicando o conceito de contingência como uma relação de “se-então”, similar às leis da física newtoniana, onde um evento X leva obrigatoriamente aos eventos Y e Z. Ele diferencia as contingências mecanicistas, onde X causa Y e Z, das contingências consequenciais, onde Z só ocorre se X e Y ocorrerem. Essa última é a base da Análise do Comportamento Operante. Paulo argumenta que a contingência em si existe independentemente do comportamento do organismo e que o comportamento só ocorre quando a relação de contingência é estabelecida e o evento Z (consequência) passa a controlar a resposta. Ele destaca a importância de entender essa diferença para a prática clínica, ilustrando com exemplos de fobias, chefes abusivos, mania e comportamentos de alta frequência. Paulo defende que analisar as contingências é crucial para planejar intervenções eficazes, pois permite entender os critérios (K) que desencadeiam as consequências e como manipulá-los para modificar o comportamento. Ele também menciona a importância do contexto e como eventos não contingentes, como turbulência em um avião, podem afetar o comportamento, levando a comportamentos supersticiosos. Finalmente, ele discute a importância do controle na Análise do Comportamento e como o uso de diferentes paradigmas, como o respondente e o operante, pode levar a diferentes abordagens clínicas.

[00:00:00,000 –> 00:10:00,000] Nesse corte: Paulo inicia o vídeo testando o áudio e vídeo, e cumprimentando os participantes. Ele explica que a live é uma forma de manter contato com a Análise do Comportamento, área na qual é especialista. Incentiva a interação do público, pedindo sugestões de temas e dúvidas. Menciona sua experiência como analista do comportamento, psicólogo clínico, supervisor do projeto Corrente do Bem e palestrante. Comenta sobre suas aulas no IBAC sobre transtornos psicóticos e alimentares, além de palestras sobre temas como autocontrole, abordagem constitucional, emoções e tópicos avançados em psicologia. Explica que pretende focar a aula na prática clínica e usar palavrões durante a apresentação. Introduz o tema da aula: contingências, justificando sua escolha devido a confusões frequentes sobre o conceito e sua aplicação clínica. Adianta que abordará a definição de contingência, os tipos de contingências, a diferença entre contingência e comportamento, tipos de contingências na Análise do Comportamento e implicações práticas para a clínica.

[00:10:00,000 –> 00:20:00,000] Nesse corte: Paulo se apresenta formalmente, fornecendo seu nome completo, CRP e experiência profissional. Explica que o tema da aula, contingências, será curto e técnico. Pede ajuda a Pablo para monitorar as perguntas do chat. Reitera o aviso sobre o uso de palavrões. Justifica a escolha do tema, “contingências”, por conta de discussões recentes em grupos que participa, e pela confusão entre contingência e comportamento. Destaca a importância de entender a diferença entre esses conceitos para aplicação clínica. Define contingências como relações de “se-então” e que a ciência busca entender essas relações e como elas afetam o comportamento dos organismos. Menciona que o behaviorismo busca o mesmo tipo de relação de “se-então”. Pede feedback e dúvidas do público e disponibiliza seu contato.

[00:20:00,000 –> 00:30:00,000] Nesse corte: Paulo explica que contingências são relações de “se-então” que existem no mundo, e a ciência busca estudá-las. Ele diferencia o pensamento mecanicista, onde X causa obrigatoriamente Y e Z (ex: empurrar uma pedra a faz rolar), do consequencialista, onde Z só ocorre se X e Y ocorrerem. Usa o exemplo do condicionamento respondente de Pavlov (comida-saliva) para ilustrar o pensamento mecanicista. Explica que no pensamento consequencialista, quem “manda” é Z, e X e Y são livres para variar. Isso se assemelha ao paradigma operante (ex: criança chora – pais dão atenção, onde a atenção só ocorre após o choro). Paulo destaca a importância dessa diferença para a análise do comportamento, principalmente em relação a comportamentos intermitentes e esquiva.

[00:30:00,000 –> 00:40:00,000] Nesse corte: Paulo reforça a importância do conceito de contingências consequenciais, onde o evento Z (consequência) é o determinante. Ele explica que no paradigma operante, a consequência (atenção dos pais) só acontece se a criança chorar na presença dos pais, ilustrando que X (pais presentes) e Y (criança chora) podem ocorrer separadamente sem gerar Z. Essa lógica difere do condicionamento respondente de Pavlov, onde a comida sempre elicia saliva. Paulo discute como essa diferença impacta a prática clínica, usando o exemplo da esquiva, onde a consequência é evitar o contato com o estímulo aversivo. Ele abre para perguntas da audiência e aborda a relação entre contingências e causalidade, e a importância do estímulo antecedente na análise clínica.

[00:40:00,000 –> 00:50:00,000] Nesse corte: Paulo discute a diferença entre contingência e comportamento. Ele usa o exemplo da caixa de Skinner, explicando que a relação entre pressionar a barra e a liberação de água é mecanicista, enquanto a relação entre a resposta do rato e a água é consequencial. A água (Z) só aparece se a barra for pressionada e os conectores se juntarem (X e Y). Paulo menciona Ogden Lindsley e seu conceito de “K” (critério de reforçamento), que nesse caso é a junção dos conectores. Ele destaca que qualquer resposta que junte os conectores levará à água, independentemente de como o rato pressiona a barra. Paulo relaciona essa lógica com intervenções clínicas, como dar atenção ao filho quando estuda, onde o pai age mecanicamente (se o filho estuda, dou atenção), mas para o filho a contingência é consequencial (a atenção especial só ocorre se ele estiver estudando).

[00:50:00,000 –> 01:00:00,000] Nesse corte: Paulo continua a discussão sobre critérios de contingência (K), usando o exemplo de pais que só dão atenção aos filhos quando estes gritam ou fazem birra. Ele argumenta que, sem querer, os pais criam uma contingência onde o comportamento inadequado é reforçado. Cita outros exemplos como professores que estabelecem critérios de avaliação muito difíceis, levando os alunos a não aprenderem ou a colarem. Ressalta que a contingência existe independentemente da resposta, e que o comportamento só ocorre quando a relação de contingência (incluindo o critério K) está estabelecida. Paulo responde a perguntas sobre controle no comportamento e defende a importância de estudar os efeitos do controle na Análise do Comportamento Aplicada.

[01:00:00,000 –> 01:10:00,000] Nesse corte: Paulo apresenta um terceiro tipo de contingência, onde a relação de dependência é entre o contexto (X) e a consequência (Z), com um espaço temporal entre eles (0), onde a resposta (Y) pode variar e não afeta a ocorrência de Z. Ele exemplifica com a turbulência em um avião: entrar no avião é suficiente para vivenciar turbulência, mas não a causa, e as respostas durante a turbulência são independentes dela. Paulo relaciona esse tipo de contingência com comportamentos supersticiosos (exemplo do pombo na caixa de Skinner com reforçamento não contingente) e situações de abuso, onde o abuso ocorre independentemente do comportamento da vítima. Ele alerta para o cuidado de não culpar a vítima em situações de abuso, focando em estratégias de contracontrole baseadas no contexto.

[01:10:00,000 –> 01:20:00,000] Nesse corte: Paulo discute as implicações práticas da análise de contingências na clínica, exemplificando com fobias, particularmente de baratas. Critica a ênfase na análise respondente (barata elicia medo) e defende a análise operante, focando no comportamento de gritar para que alguém remova a barata (consequência). Sugere ensinar o paciente a matar a barata como intervenção mais efetiva. Argumenta que a extinção respondente, ao expor o paciente a estímulos semelhantes à barata, ignora o componente operante da fobia. Paulo também relaciona a análise de contingências com pânico de ir ao trabalho, sugerindo investigar as contingências aversivas no ambiente de trabalho e desenvolver habilidades de enfrentamento, em vez de apenas expor o paciente ao trabalho gradualmente.

[01:20:00,000 –> 01:30:00,000] Nesse corte: Paulo continua discutindo a importância da análise funcional e das contingências em casos de fobia. Menciona que fobias podem gerar atenção da família, reforçando o comportamento fóbico, especialmente em idosos e crianças (ex: fobia escolar). Discute comportamentos de alta frequência (gritar, chorar) como “coringas” para obter atenção social, levando ao afastamento das pessoas a longo prazo. Explica que pessoas com esses comportamentos frequentemente têm dificuldade em acessar outras contingências mais adaptativas. Paulo defende a intervenção focada em aproximar a pessoa de contingências com critérios mais suaves e reforçar comportamentos alternativos.

[01:30:00,000 –> 01:40:00,000] Nesse corte: Paulo discute a importância de analisar as contingências além do comportamento, especialmente em situações onde a relação é entre o contexto e a consequência, e não depende da resposta da pessoa. Usa o exemplo da turbulência no avião e situações de abuso, onde a vítima não tem controle sobre as consequências. Ele alerta contra culpar a vítima e defende o desenvolvimento de estratégias de contracontrole focadas na mudança do contexto. Paulo também discute o caso de pessoas com mania, que se percebem como produtoras de tudo o que acontece, e a importância de trazer o controle para eventos contingentes reais.

[01:40:00,000 –> 01:44:03,140] Nesse corte: Paulo responde a perguntas sobre o uso do paradigma respondente e defende sua escolha pelo operante devido à maior possibilidade de intervenções clínicas. Reforça o respeito pelos pacientes e a importância de analisar cada caso individualmente. Menciona a possibilidade de uma aula sobre agência de controle e a clínica como agência de controle. Indica a obra de Ogden Lindsley e o livro de Canfer para aprofundamento no tema de critérios de contingência (K). Finaliza a aula agradecendo a participação do público e indicando o tema da próxima aula: contingência de três termos.

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