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Esse vídeo fala sobre autocontrole na perspectiva da análise do comportamento. O palestrante inicia recomendando o livro “Behaviorism in Everyday Life” de Howard Rachlin, que apresenta um protocolo de 12 passos para autocontrole. Ele revisa os conceitos de behaviorismo respondente e operante, reforçamento e punição, e critica a definição comum de autocontrole como uma escolha entre consequências atrasadas e imediatas, exemplificada pelo experimento do marshmallow. Argumenta que essa definição é limitada e não abrange casos como o de acumuladores compulsivos ou pessoas com TOC. O palestrante propõe que controle, na análise do comportamento, ocorre quando uma resposta está sob controle de uma consequência e que autocontrole é a capacidade de criar contingências que favoreçam os comportamentos desejados. Ele critica o termo “autorreforçamento” por considerá-lo redundante e defende a importância de analisar o contexto, a resposta e a consequência para determinar se uma escolha é genuína. O palestrante compartilha um exemplo pessoal de como desenvolveu o hábito de ler artigos científicos, criando contingências que o favoreciam, e finaliza enfatizando a importância de ensinar os pacientes a criarem contingências que promovam comportamentos desejados e a romperem com contingências que interferem em comportamentos adequados. Ele também destaca o impacto da pandemia na quebra de contingências e reforça o papel da internet na manutenção de conexões sociais e na criação de novas contingências.
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[00:00:00,000 –> 00:10:00,960] Nesse corte: O palestrante inicia testando o áudio e cumprimentando os participantes. Ele introduz o tema do autocontrole como seu favorito na análise do comportamento e menciona que o escolheu por sua relevância ao contexto atual. Recomenda o livro “Behaviorism in Everyday Life” de Howard Rachlin para quem busca um protocolo estruturado de técnicas de autocontrole. Descreve o livro como excelente, com linguagem acessível e voltado para a aplicação do behaviorismo no cotidiano. Após um breve comentário sobre a dificuldade de converter seus livros para PDF, agradece a presença dos participantes e destaca o objetivo das aulas em trazer ordem e controle para a vida. Menciona que o formato das aulas anteriores, em PDF, foi escolhido por serem teóricas e servirem como base para os temas mais avançados que serão abordados a partir desta aula. Justifica a necessidade de feedback dos alunos para modelar o comportamento e anuncia que a aula de hoje abordará o autocontrole. Em seguida, revisa os tipos de behaviorismo: respondente (contingência S-R) e operante (contingência S-R-C), destacando as diferenças na interpretação dos fenômenos e apresentando exemplos como o cachorro de Pavlov e o choro de uma criança na presença dos pais. Revisa também o conceito de comportamento como uma relação entre resposta e consequência, definida por um critério estabelecido pelo experimentador, e as contingências de reforçamento e punição que afetam a frequência das respostas.
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[00:10:00,960 –> 00:20:00,960] Nesse corte: O palestrante aborda a definição comum de autocontrole na análise do comportamento, baseada no texto de Marcelo Beckert, como a escolha entre uma consequência atrasada e uma consequência imediata. Ele exemplifica com o experimento do marshmallow, onde a criança escolhe entre comer um marshmallow imediatamente ou esperar e ganhar mais. Menciona estratégias para intervir nesse tipo de situação, como ensinar a criança a esperar e a se ocupar enquanto espera. O palestrante apresenta o exemplo clássico de contingências concorrentes: estudar para passar na prova (consequência atrasada) versus ir a uma festa (consequência imediata). Ele explica que as estratégias de intervenção envolvem trazer as consequências da festa para o contexto do estudo, como formar grupos de estudo com amigos. Argumenta que a pessoa que escolhe a festa está sob controle das consequências imediatas e que, ao transferir essas consequências para o contexto do estudo, aumenta-se a chance de o comportamento de estudar ser controlado por elas. O palestrante discute a importância de definir o comportamento e explica que, quando se diz que alguém não tem o comportamento de estudar, significa que não há uma relação estabelecida entre estudar e passar na prova. Ele reforça que o objetivo é usar consequências arbitrárias para aumentar a frequência do comportamento de estudar até que ele fique sob controle da consequência natural de passar na prova. O palestrante responde a perguntas sobre a definição de autocontrole, enfatizando que, nessa definição, autocontrole ocorre em situações de contingências concorrentes, onde o organismo escolhe entre consequências atrasadas e imediatas. Ele reforça o valor do trabalho de Beckert, mas indica que abordará outras definições de autocontrole posteriormente.
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[00:20:00,960 –> 00:30:00,960] Nesse corte: O palestrante questiona a definição tradicional de autocontrole, apresentando exemplos que a contradizem, como o de pessoas que acumulam dinheiro sem gastá-lo ou pessoas com TOC. Ele levanta a questão de se esses comportamentos, que priorizam consequências atrasadas, podem ser considerados autocontrole. Em seguida, discute o conceito de controle na análise do comportamento, definindo-o como a relação entre uma resposta e sua consequência. Ele questiona as estratégias comuns de autocontrole, como “o poder da mente”, e argumenta que elas não funcionam porque não se baseiam em contingências. O palestrante define autocontrole como a capacidade de criar contingências que favoreçam comportamentos desejados e critica o termo “autorreforçamento” por considerá-lo redundante, já que todo comportamento em uma contingência é, por definição, autorreforçado. Ele exemplifica com situações como se dar um chocolate após ler dez páginas, argumentando que se o chocolate está disponível, não há contingência real. O palestrante compara com o exemplo de dar a chave do carro a um amigo para evitar dirigir bêbado, e questiona a eficácia do autorreforçamento em situações de privação, como esperar para comer até terminar de estudar. Conclui que o autorreforçamento depende mais das contingências disponíveis do que da força de vontade.
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[00:30:00,960 –> 00:40:00,960] Nesse corte: O palestrante aborda os conceitos de coerção e liberdade, mencionando os livros de Skinner “Para Além da Liberdade e da Dignidade” e de Murray Sidman “Coerção e suas implicações”. Explica a visão de Skinner sobre liberdade como uma percepção de contingências de reforçamento positivo e seu mandato de construir um mundo com reforços positivos. Menciona a visão de Sidman, que considera coerção tudo o que não é reforçamento positivo, incluindo a extinção, e sua defesa da aprendizagem sem erros. O palestrante discorda da ideia de uma sociedade sem erros por considerá-la impraticável e destaca as limitações da clínica verbal, onde o controle sobre as contingências é reduzido. Apresenta a definição de Israel Goldiamond sobre liberdade e coerção como relativas ao número de alternativas disponíveis, propondo a fórmula “liberdade = N-1”, onde N é o número de alternativas. Ele argumenta que a coerção é natural e que a liberdade aumenta com o número de alternativas disponíveis. O palestrante enfatiza a importância do critério de produção das consequências e que o reforçamento afeta qualquer resposta que o preceda, exemplificando com o rato na caixa de Skinner e com um aluno que cola na prova. Finaliza discutindo a importância de analisar o contexto, a resposta e a consequência para determinar se uma escolha é genuína.
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[00:40:00,960 –> 00:50:00,960] Nesse corte: O palestrante faz uma pausa para perguntas e comentários dos participantes. Ele retoma a discussão sobre escolhas genuínas, criticando a ideia de que os recém-formados em psicologia têm livre escolha sobre as opções de carreira. Argumenta que a falta de repertório em áreas como captação de clientes, marketing e gestão financeira limita as alternativas, levando muitos a optarem pelo mestrado ou concurso público por falta de outras opções. O palestrante critica a formação acadêmica por focar em habilidades acadêmicas em detrimento de habilidades práticas para o mercado de trabalho. Ele defende a importância de desenvolver novas habilidades e criar contingências que favoreçam o desenvolvimento profissional. Discute como a dependência de clínicas privadas para obter pacientes pode dificultar o desenvolvimento da habilidade de captar clientes e menciona um texto seu sobre o tema, disponibilizando seu contato para quem tiver interesse. O palestrante retoma a definição de autocontrole, argumentando que o comportamento está sempre em função das consequências e alternativas disponíveis, e que o verdadeiro autocontrole envolve criar contingências que favoreçam os comportamentos desejados. Ele defende a importância de ensinar os pacientes a identificar seus reforçadores e a manipular as contingências a seu favor.
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[00:50:00,960 –> 01:00:00,960] Nesse corte: O palestrante discute como romper com contingências que interferem em comportamentos adequados, exemplificando com uma pessoa que perde a capacidade de estudar em casa devido a uma obra. Ele argumenta que, nesses casos, é necessário romper com a contingência aversiva e criar novas contingências, como estudar em uma biblioteca. O palestrante defende a importância de apoiar o paciente e ajudá-lo a desenvolver repertórios de enfrentamento para situações adversas. Em seguida, compartilha um exemplo pessoal de como superou a dificuldade de ler artigos científicos. Ele descreve seu padrão de comportamento anterior, onde evitava ler artigos, mesmo tendo tempo livre, e como as contingências em diferentes contextos (faculdade, especialização, casa, amigos, tempo livre) o mantinham preso a esse padrão. O palestrante explica como criou novas contingências, como uma lista de artigos, a participação em uma comunidade online e a discussão com amigos, para reforçar o comportamento de ler. Descreve como essas mudanças o levaram a ler um volume muito maior de artigos e como a criação de novas contingências transformou seu repertório de leitura.
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[01:00:00,960 –> 01:10:00,960] Nesse corte: O palestrante conclui seu exemplo pessoal, destacando que não se tratava de uma questão de escolha entre consequências atrasadas e imediatas, mas sim da falta de reforçadores imediatos para o comportamento de ler. Ele reforça a importância de ensinar os pacientes a perceber suas contingências e a criar sistemas que favoreçam os comportamentos desejados, ressaltando que esse processo deve ser gradual e adaptado às necessidades individuais. Ele encerra a apresentação formal da aula e abre espaço para perguntas dos participantes. Responde à pergunta sobre metas, defendendo metas fáceis e o uso de contingências para aumentar a frequência do comportamento. Cita um exemplo de Israel Goldiamond trabalhando com uma estudante que superestimava seu tempo de estudo, mostrando como uma intervenção simples, como controlar o tempo na mesa de estudos, pode trazer consciência sobre o comportamento real. O palestrante reforça a importância de apoiar o paciente e evitar cobranças excessivas.
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[01:10:00,960 –> 01:17:42,720] Nesse corte: O palestrante discute a importância da internet para manter o contato social e criar novas contingências durante a pandemia, argumentando que muitas pessoas perderam acesso às suas contingências habituais e precisam se adaptar ao novo contexto. Ele explica como suas lives no YouTube servem como uma intervenção para criar rotina e estabilizar os participantes durante o período de isolamento. O palestrante sugere o uso de chamadas de vídeo para manter o contato social, exemplificando com seu plano de malhar com uma amiga por Skype. Ele responde a perguntas sobre a viabilidade do mundo ideal proposto por Skinner e Sidman, argumentando que a visão de Goldiamond é mais realista e pragmática. O palestrante relaciona autocontrole com tomada de decisão, explicando que a privação de necessidades básicas, como a fome, pode interferir na capacidade de se engajar em outros comportamentos, como estudar. Ele reforça a importância de criar alternativas genuínas e critica a ideia de culpar os recém-formados pela falta de sucesso profissional, argumentando que a falha está na formação acadêmica que não os prepara adequadamente para o mercado de trabalho. O palestrante encerra a live agradecendo aos participantes, disponibilizando seus slides e contato para quem tiver interesse, e anuncia o tema da próxima live.